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HISTÓRIA 

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O aconchegante bairro de Lumiar, 5º distrito de Nova Friburgo, tem a colonização suíça da cidade serrana como ponto chave para explicar sua origem. No início do Século XIX, países europeus passavam por terríveis guerras provocadas pela ascensão do império francês de Napoleão Bonaparte. Doenças, desemprego, fome e miséria assolavam o continente em consequência dos conflitos, e a Suíça era um dos países prejudicados. Enquanto isso, o Brasil passava pela transição de colônia para tornar-se sede do Império Português. Incomodado com a cultura africana e indígena arraigada sobre as terras tupiniquins, o rei D. João VI passou a atrair colonos europeus com o objetivo de fortalecer os costumes do Velho Continente, além de instituir o trabalho livre no país com a vinda de diversificados tipos de profissionais. A vila de Nova Friburgo foi criada em 16 de maio de 1818 com o nome de Colônia do Morro Queimado, fruto de um acordo entre D. João VI e um diplomata suíço. Estava criada a primeira colônia de suíços no Brasil. Não à toa, a vila foi escolhida por seu clima ameno, bem diferente do calor tropical da região metropolitana do Rio de Janeiro e de outras regiões do país. A colônia foi transformada em vila em janeiro de 1820 e recebeu o nome de Nova Friburgo em homenagem ao local de origem da maioria dos suíços, chamado Fribourg (em alemão, significa “cidade livre”). A cidade serrana foi emancipada em 8 de janeiro de 1890, já no período republicano.

 

Embora Nova Friburgo tenha em sua origem o vínculo com os suíços, a história de Lumiar tem pioneirismo francês em seu sangue. Antes da chegada dos populares europeus à serra, um nobre francês chamado Felipe de Roure começou a habitar a região, fugido das guerras napoleônicas no início do século XIX. O nome Lumiar foi escolhido em homenagem à esposa de Felipe, Michaela de Abreu, nascida no vilarejo de Paço de Lumiar, que hoje pertence à capital de Portugal, Lisboa.

 

Os moradores da colônia suíça em Friburgo conviviam com inúmeros problemas identificados logo nos primeiros anos após sua posse. Eram poucas casas para muitos habitantes. Os domicílios eram muito humildes, sofriam com enchentes e as terras ruins e irregulares não supriam as necessidades de plantio. Com o tempo, famílias começaram a deslocar-se para outros lotes em torno da região. Autorizados pelo príncipe regente, D. Pedro I, suíços insatisfeitos assumiram terras do Vale do Macaé, onde hoje estão situados os bairros de Mury, Lumiar, São Pedro da Serra e parte da região da Estrada Serramar, que liga Lumiar à Região dos Lagos. Em 1824 chegaram à Nova Friburgo colonos Alemães, que cobiçaram a região de Lumiar e participaram de maneira efetiva na colonização e expansão local.

A região ficou semi-isolada ao longo de todo o século XIX e boa parte do século XX, devido à dificuldade de acesso – estrada sem pavimentação, falta de um transporte urbano eficiente, falta de energia elétrica, etc. Com uma produção de subsistência e cultivo do café, o modo de vida interiorano (cavalos como meio de transporte, fogão de lenha e lamparinas, economia assentada em recursos locais), perdurou até a ampliação e asfaltamento da RJ-142 ou Estrada Eugênio Guilherme Spitz (Mury-Lumiar), em 1982, e com a chegada da energia elétrica em 1985, que tiraram a região do isolamento.

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MOVIMENTO HIPPIE E O "BOOM" PROMOVIDO POR BETO GUEDES

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Eventualmente, não é difícil ser surpreendido por alguém na Região dos Lagos, em Niterói ou no Rio de Janeiro contando histórias sobre luas de mel, passeios e boas e inesquecíveis aventuras em Lumiar e/ou São Pedro da Serra em décadas passadas. Especificamente entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970, os vilarejos na serra fizeram parte de uma tendência mundial, a invasão “hippie”. O “boom” deste comportamento coletivo, em que pessoas estavam dispostas a transmitir valores inovadores, quebrar tabus sociais e combater princípios capitalistas e guerras, esteve presente nestes bairros e ajudou na construção político-social da região. No Brasil, estes grupos confrontaram a ditadura militar, lutaram pelo direito de expressão e a mudança dos costumes através da arte, da música e da moda. “Talvez tenham sido o primeiro nicho específico e definido a entrar em contato com a população de Lumiar e adjacências”, disse o historiador local Manoel Antônio Spitz ao jornal Eco Lumiar. A região, escondida, rústica, bucólica e recheada de belezas naturais, servia como alternativa à imensa repressão do governo vigente nas grandes cidades. Além de se hospedarem em espaços livres, a céu aberto, os hippies tinham como única alternativa a Pensão Klein, pioneira em Lumiar, desde 1972, que hoje leva o nome de Pousada Klein. A empresa é administrada atualmente por Irene Klein, filha do casal de fundadores do negócio, Liberino Klein e Noêmia Francisca.

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Ainda na década de 1970, outra história marcaria Lumiar para sempre e potencializaria uma espécie de “telefone sem fio” que alavancou o número de visitantes na região. O consagrado compositor Ronaldo Bastos visitou o local e voltou à metrópole apaixonado, contando sua experiência e os detalhes do bairro para seus amigos. Um deles era Beto Guedes, cantor, compositor e multi-instrumentalista do movimento musical chamado Clube da Esquina. Polivalente e criativo, o artista foi capaz de compor uma música intitulada “Lumiar”, com a riqueza de peculiaridades da região e com capacidade para encantar os ouvidos, mesmo sem nunca a ter visitado. O cantor só conheceria Lumiar após o lançamento da canção, no álbum “A página do relâmpago elétrico”, de 1977. Em 1980, a música foi regravada por outro grupo de sucesso, o Roupa Nova.

 

Anda, vem jantar
Vem comer, vem beber, farrear
Até chegar Lumiar
E depois deitar no sereno
Só pra poder dormir e sonhar
Pra passar a noite
Caçando sapo, contando caso
De como deve ser Lumiar

Acordar, Lumiar, sem chorar
Sem falar, sem querer
Acordar em lumiar
Levantar e fazer café
Só pra sair caçar e pescar
E passar o dia
Moendo cana, caçando lua
Clarear de vez Lumiar

Amor, Lumiar
Pra viver, pra gostar
Pra chover, pra tratar de vadiar
Descansar os olhos, olhar e ver e respirar
Só pra não ver o tempo passar
Pra passar o tempo
Até chover, até lembrar
De como deve ser Lumiar

Anda, vem jantar
Vem dormir, vem sonhar, pra viver
Até chegar em Lumiar

Estender o sol na varanda até queimar
Só pra não ter mais nada a perder
Pra perder o medo, mudar de céu, mudar de ar
Clarear de vez Lumiar”

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O sucesso da canção atraiu novos visitantes, integrou o bairro ao restante de Nova Friburgo, produziu mudanças na vida da comunidade e aumentou significantemente a infraestrutura e os serviços sociais da localidade. Hoje, a música é tradicionalmente entoada em eventos, bares, restaurantes e virou uma espécie de hino local. Atualmente, no centro de Lumiar, onde fica localizada a lagoa, uma placa com as mãos de Beto Guedes gravadas sobre o cimento é exibida aos visitantes como forma de homenagem ao artista.

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"O que aconteceu em Lumiar foi algo parecido com a brincadeira de telefone sem fio. Alguém descobriu as matas e cachoeiras, gostou e espalhou para outras pessoas. Muitos turistas se apaixonaram tanto que fizeram moradia. O lugar se transformou em uma alternativa de vida. Os hippies visitaram e viveram em Lumiar até 1986. A partir daí, já havia luz elétrica e estrada asfaltada, o que espantou a comunidade alternativa e encantou ainda mais os turistas de classe média", conta Manoel Antônio ao Jornal A Voz da Serra.

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Paraíso acolhedor: Lumiar e São Pedro são de todo mundo, o ano inteiro

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Hoje, Lumiar e São Pedro da Serra são os principais pontos turísticos de Nova Friburgo e uma das regiões mais democráticas e isentas de padrões e exigências implícitas para se receber visitantes no Rio de Janeiro. Por lá, é possível encontrar campings e restaurantes com refeições simples e caseiras, mas hotéis cinco estrelas e a alta gastronomia também estão presentes. Jazz, blues e MPB são atrações em bares e pubs, e  outros estabelecimentos promovem o rock, o reggae e principalmente o forró para divertirem seus clientes. Na maioria dos casos, é possível apreciar a música sem a necessidade de pagar pelas exibições, uma vez que os locais são abertos e de acesso irrestrito. Os bairros atendem todos os perfis de turistas, mas sem perder a simplicidade e a essência do período histórico de ascensão do turismo local. A cultura do artesanato é muito comum em ateliês e nas praças públicas, além das pontuais feiras.  As festas da região, como a de São Pedro e a da Vila Mozer, nos meses de Junho e Julho, são mais um atrativo rotineiro que lotam os estabelecimentos hoteleiros.

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Entre idas e vindas nas decisões políticas da cidade, Lumiar tornou-se o 5º distrito de Nova Friburgo. São Pedro da Serra é o 7º. Apenas 5 km separam os bairros, que ficam a cerca de 174 km da capital do Estado. De acordo com o último censo nacional, de 2016, levantado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade serrana tem aproximadamente 185.102 habitantes. Não há estimativa oficial sobre os bairros. A principal via de acesso à região é a RJ-142, que liga o distrito de Mury, em Friburgo, à cidade de Casimiro de Abreu, na Região dos Lagos. Por conta disso, Lumiar e São Pedro recebem, eu sua maioria, visitantes dos municípios litorâneos e das cidades metropolitanas do Rio. Cercada pela Mata Atlântica, Lumiar e São Pedro tem sua baixa temperatura explicada pela grande altitude.

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Com o passar dos anos, a natureza foi capaz de construir algumas belezas que se tornaram uma verdadeira paixão dos visitantes de Lumiar e São Pedro da Serra. Quem visita, dificilmente se recusa a voltar e acaba viciado em curtir os pontos ecológicos que são preservados por ambientalistas e pelos próprios moradores. Diferentemente de muitas das cidades turísticas do Rio, tanto no litoral quanto na Serra, a região de Lumiar e São Pedro é contemplada com uma espécie de alta temporada ininterrupta. No inverno, há muito frio, ambiente bucólico, festas regionais e todo um cenário que contemple o imaginário da estação. Quando o sol chega, não deixa a desejar para os grandes centros praianos do Rio, a não ser pela própria ausência de praias. Por lá, as cachoeiras são as grandes protagonistas do verão e ficam lotadas nos dias de calor. O clima regional é superúmido, sendo janeiro, fevereiro e março os meses mais quentes, e junho, julho e agosto os mais frios.

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O mapa com o circuito de cachoeiras é cobiçado na região e motiva os turistas a visitarem, uma por uma, as principais correntes de água paisagísticas de Lumiar e adjacências. Uma das mais famosas, a Indiana Jones, corre por um estreito cânion e termina com um escorrega natural. Para o melhor banho da região, destaca-se a cascata de São José, com 15 metros de quedas que formam uma super ducha. As famílias marcam presença em Poço Verde e Toca da Onça, com águas calmas e locais para piquenique. Também há a cachoeira do Poço Feio, conhecida como "Praia de Lumiar", de águas mansas e outros serviços à disposição no espaço, como restaurante, sauna, tirolesa e estacionamento, além da assistência de salva-vidas. Já para mergulhar e se divertir nos escorregadores de pedra, as pedidas são o Poço Belo e Cachoeira Branca. Quem procura uma impactante visão privilegiada e não abre mão de praticar esportes radicais em meio à natureza, faz do encontro dos rios Macaé e Bonito um cenário perfeito para belas fotos, mergulhos e a prática do rafting e da canoagem. O visitante que optar por uma caminhada, tem como opção os poços do Gianini, onde reinam a calmaria e a melodia das correntezas.

Só em Lumiar - Cicero Adriano
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Lumiar e 

São Pedro

da Serra

Dom Fotográfico e

Drone da Serra

A riqueza natural é tanta, que uma das cachoeiras chama-se Encontro dos Rios, literalmente por conta do encontro de dois destes afluentes, que formam uma imensa piscina natural em um ponto comum. Neste mesmo lugar, já foram realizados diversos campeonatos de rafting, inclusive em nível nacional. Os esportes radicais são muito presentes e possuem incentivo e serviço comercial de uma agência, chamada “Lumiar Aventura”, que promove visitas às cachoeiras, passeios de rafting, experiências em rapel, escalada, arvorismo, dentre outras modalidades.

Obrigado pela visita :) 

A trilha da Pedra Riscada é a mais famosa da região. De sua base ao cume, são cerca de 400m e aproximadamente três horas de caminhada. Do topo, é possível apreciar a vista dos vilarejos, a mata atlântica e também parte da Região dos Lagos. A região também se insere em rotas de aventureiros que percorrem trilhas de bicicleta, jipe e moto.

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